domingo, 22 de dezembro de 2013
Sou um homem comum
"Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
Ando a pé, de ônibus, de táxi e de avião
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou, como você,
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos Bons,
defuntas alegrias, flores, passarinhos,
facho de tarde luminosa,
nomes que já nem sei,
bocas bafos bacias
bandejas bandeiras bananeiras
tudo
misturado
essa lenha
perfumada que se acende
e me faz caminhar."
Ferreira Gullar (1930-). A Luta Corporal e Novos Poemas. Rio de Janeiro: José Álvaro Editor, 1966, p. 157
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