"Um dia, o doutor meteu a anã na sua casa e disse-lhe que ela já não saía dali grávida. Não tinha condições para mais e era preciso fazer o bebê nascer. Era tão cedo no tempo da gestação que havia uma possibilidade enorme de correr tudo mal. Passou palavra por toda a aldeia de que a anã estava em risco absoluto e teria um destino qualquer a cumprir-se nos próximos dias. O doutor tentava acalmar a mulher, e ela queria sobretudo que o seu filho nascesse e que tivesse modo de fazer a vida. Sentia que, se o seu filho vingasse, a sua vida valera a pena. Curava-se da tristeza e prosseguia no insondável que os filhos são. Os filhos, dizia, levam dentro famílias inteiras."
Valter Hugo Mãe (1971-). O filho de mil homens. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 33
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