sexta-feira, 19 de julho de 2013

Vou para o outono


"Vou para o outono, e - ai de mim! - já ouço
o vento a desgrenhar as pobres árvores.
Vou para o outono, para o doce outono,
E em breve o inverno é que virá, e o escuro.

Que fiz, Deus meu, de tudo o que me deste,
Da alegria, das cores e da flama
Que desfrutei na clara mocidade
E tão vil dispersei ingloriamente?

Vou para o outono, para o instante triste,
Para esse tempo que precede ao frio.
Vou para o outono, e sinto a alma vazia...

Ah! Não guardei, do meu verão perdido,
Esse calor, que mesmo à própria morte
Olhar nos faz sem medos nem cuidados."

Augusto Frederico Schmidt (1906-1965). Sonetos. Rio de Janeiro: Rio Gráfica e Editora, 1965, p. 125

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