sexta-feira, 19 de julho de 2013

naufrágios


“Senhor, que inquieta e triste natureza,
Que alma é esta, a alma que me deste?
Foi um capricho teu, ou foi o acaso
Que assim me fez, que me formou assim?

Só hoje estou consciente do mistério
E dos perigos do meu pobre ser.
E é por isso que vivo e desespero
E desespero e vivo, e sofro tanto.

Senhor, por que tão frágil me fizeste?
Por que me abandonaste nestes mares,
À mercê dos tufões e das tormentas?

Por que, Senhor, nas águas me deixaste,
Lenho tão fraco pra tão rudes ondas
Barco feito tão-só para os naufrágios?”

Augusto Frederico Schmidt (1906-1965). Sonetos. Rio de Janeiro: Rio Gráfica e Editora, 1965, p. 286

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