quinta-feira, 25 de julho de 2013

Pergunte ao pó


"Uma noite, eu estava sentado na cama do meu quarto de hotel, em Bunker Hill, bem no meio de Los Angeles. Era uma noite importante na minha vida, porque eu precisava tomar uma decisão quanto ao hotel. Ou eu pagava ou eu saía: era o que dizia o bilhete, o bilhete que a senhoria havia colocado debaixo da minha porta. Um grande problema, que merecia atenção aguda. Eu o resolvi apagando a luz e indo para a cama. (...)

Mas a senhoria, a senhoria de cabelos brancos continuava escrevendo aqueles bilhetes: era de Bridgeport, Connecticut, seu marido morrera e ela estava totalmente sozinha no mundo e não confiava em ninguém, não podia se dar ao luxo, ela me disse, e disse que eu teria de pagar. Estava crescendo como a dívida nacional, eu teria de pagar ou sair, cada centavo - cinco semanas de atraso, vinte dólares, e se não pagasse ela prenderia minhas malas; só que eu não tinha malas, eu só tinha uma valise e era de papelão sem nem sequer uma alça, porque a alça estava ao redor da minha barriga segurando minhas calças, e não era grande coisa, porque não sobrava muito das minhas calças."

John Fante (1909-1983). Pergunte ao pó (1939). 9ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011, p. 11-14

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