sexta-feira, 19 de julho de 2013
águas quietas e escuras
"As águas quietas e escuras guardavam no seio imóvel
a cor dos grandes céus com suas nuvens,
E guardavam um silêncio como não vi maior:
Um silêncio maduro, de coisas se transformando;
Um silêncio fecundo, de natureza crescendo;
Um silêncio inicial, de antes do mundo possuir
Suas formas, o seu ritmo, o seu equilíbrio numeroso;
Um silêncio prestes a se partir num grande grito.
Em torno das águas escuras estava a floresta tropical.
Com a sua exasperada palpitação e o seu denso mistério,
As árvores pareciam esperar um acontecimento inesperado.
Poderíamos, no ermo, sentir os primeiros passos da Noite,
Que vinha com os seus grandes pés escuros
Quebrando frágeis galhos e machucando flores e plantas silvestres."
Augusto Frederico Schmidt (1906-1965). Sonetos. Rio de Janeiro: Rio Gráfica e Editora, 1965, p. 66
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