"olha, sabes que hoje em dia se armazena informação que nunca, em toda a eternidade, vai voltar a ser consultada. (...) é que com isto da informática tudo se regista, do mais importante ao mais insignificante. desde as coisas do estado até à rotina dos adolescentes. e muito do que se regista não será mais consultado, porque não haverá ninguém com interesse ou sequer com tempo para o fazer. que angústia. é como haver muita gente a querer deixar uma marca para o futuro e o futuro estar sobrelotado. está cheio, não é suficiente para toda a gente. pois a mim parece-me bem morrer e mais nada. sim, morrer e ficar mortinha sem mais aborrecimento, nem o de alguém se ocupar comigo. depois de mortas, havemos de estar melhor, nem sou de querer deixar rasto onde só nos tramam. (...) morre-se e tudo há de ser melhor."
Valter Hugo Mãe (1971-). o apocalipse dos trabalhadores (2008). São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 34
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