"É uma ocupação tranquilizadora, num daqueles belos dias de outono
quando é possível apreciar todo o calor do sol em sua plenitude, sentar
num toco de árvore a uma altura como esta, olhando o lago de cima, e
estudar os círculos ondeantes que se inscrevem incessantemente em sua
superfície, a qual, não fossem eles, seria invisível entre as imagens
refletidas dos céus e das árvores. Não há qualquer perturbação nessa
vasta superfície que não seja de imediato suavemente afastada e
apaziguada, pois, tal como quando se agita a água de um cântaro, os
círculos trêmulos procuram as bordas, e então tudo retoma a placidez.
Não há o salto de um peixe ou o cair de um inseto no lago que não seja
logo anunciado em ondulações curvas, em linhas de beleza, como se fosse o
jorro constante de sua fonte, a delicada pulsação de sua vida, o alçar
de seu seio. Os frêmitos de alegria e os frêmitos de dor são
indiscerníveis. Como são pacíficos os fenômenos do lago!"
Henry David Thoreau (1817-1862). Walden (1854). Porto Alegre: L&PM, 2014, p. 182
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