sábado, 9 de maio de 2015

Ocupação tranquilizadora

"É uma ocupação tranquilizadora, num daqueles belos dias de outono quando é possível apreciar todo o calor do sol em sua plenitude, sentar num toco de árvore a uma altura como esta, olhando o lago de cima, e estudar os círculos ondeantes que se inscrevem incessantemente em sua superfície, a qual, não fossem eles, seria invisível entre as imagens refletidas dos céus e das árvores. Não há qualquer perturbação nessa vasta superfície que não seja de imediato suavemente afastada e apaziguada, pois, tal como quando se agita a água de um cântaro, os círculos trêmulos procuram as bordas, e então tudo retoma a placidez. Não há o salto de um peixe ou o cair de um inseto no lago que não seja logo anunciado em ondulações curvas, em linhas de beleza, como se fosse o jorro constante de sua fonte, a delicada pulsação de sua vida, o alçar de seu seio. Os frêmitos de alegria e os frêmitos de dor são indiscerníveis. Como são pacíficos os fenômenos do lago!"

Henry David Thoreau (1817-1862). Walden (1854). Porto Alegre: L&PM, 2014, p. 182

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