"O pássaro medieval passa da obscuridade à luz da sala de banquete,
depois de novo às trevas. Um dos argumentos oh-tão-razoáveis contra a
ansiedade em relação à morte é: se não tememos nem odiamos a eternidade
que precedeu nosso breve mas claro momento de vida, por que deveríamos
abominar a segunda eternidade de trevas? Porque, claro, durante a
primeira, o universo – ou pelo menos uma muito, muito insignificante
parte do cosmos – evoluiu de maneira a permitir a criação de alguma
coisa de incontestavelmente interessante que, por meio de mutações
genéticas, e através de uma sucessão de ancestrais simiescos rosnando
enquanto manejavam instrumentos primitivos, finalmente chegou às três
gerações de professores que produziram o que parece ser... eu. De modo
que esta obscuridade tinha alguma razão de ser – pelo menos do meu ponto
de vista egocêntrico; enquanto o segundo período de trevas definitivas é
absolutamente indefensável."
["L'oiseau médiéval passe de l'obscurité à la lumière de la salle de
banquet, puis de nouveau aux ténèbres. Un des arguments
oh-si-raisonnables contre l'anxiété de la mort est: si on ne craint et
ne hait pas l'éternité qui a précédé notre bref mais clair moment de
vie, pourquoi devrait-on abhorrer la seconde éternité de ténèbres? Parce
que, bien sûr, pendant la première, l'univers – ou du moins, une très,
très insignifiante partie du cosmos – a évolué de façon à permettre la
création de quelque chose d'incontestablement intéressant qui, à force
de mutations génétiques, et à travers une succession d'ancêtres
simiesques maniant des outils primitifs en grognant, a finalement abouti
aux trois générations de maîtres d'école et de professeurs qui ont
produit ce qui se trouve être... moi. De sorte que cette obscurité-là
avait quelque raison d'être – du moins, de mon point de vue
égocentrique; tandis que la seconde période de ténèbres définitives est
absolument indéfensable."]
Julian Barnes. Rien à craindre. Paris: Mercure de France (folio), 2009, p. 188
Julian Barnes. Rien à craindre. Paris: Mercure de France (folio), 2009, p. 188
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