"Eu percebi que o Steindór era tão boa pessoa que até gostava da minha tia. A pavorosa tia que gulosamente deglutia o mundo. Pensei que aquele homem era capaz de amar qualquer estafermo. Tive muita pena dele. Fomos o resto do percurso a fincar as botas no chão meio gelado, a esboroar como areia de vidro. Sob os pés tínhamos o futuro. Achei assim. Ia o futuro inteiro no trajeto que traçasse. A vida, agora, era a direção que eu lhe conferisse. Estava com doze anos, faltava pouco para fazer treze, não me via como uma criança. Era uma mulher tão completa quanto apenas a tristeza as sabia fazer."
Valter Hugo Mãe (1971-). A desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p. 89
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