"A
Sigridur, quando muito pequena, confundia o ontem, o hoje e o amanhã.
Dizia: amanhã foi muito bonito. O meu pai achava que era uma forma de
ter visões. A Sigridur só o dizia quando se referia a coisas positivas,
alegrias e contentamentos que recolhia. Era uma forma de prever que o
dia seguinte seria tão bom quanto o anterior. Como se fosse uma
capacidade de sonhar. Das duas, a Sigridur era a sonhadora. Se a morte
não a tivesse traído, esperá-la-ia uma vida de maravilhas por diante.
Mas a vida não pertencia aos sonhadores, ainda que talhados para o
sucesso. A vida era dos que sobravam. Em sobrar estava a oportunidade de
prosseguir e de alguma vez se ser feliz."
Valter Hugo Mãe (1971-). A desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p. 102
Valter Hugo Mãe (1971-). A desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p. 102
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