sábado, 8 de novembro de 2014

Sozinho na varanda


"Fiquei então na varanda sozinho e contemplei a lua, que estava cheia e muito baixa no horizonte. Tive um momento então. Porque a lua me respondeu. Não quero dizer com isso que tenha ouvido vozes, ou que Luna e eu tenhamos nos permitido a fantasia de um diálogo, não, na verdade foi pior do que isso. Alguma coisa nas profundezas da lua cheia, uma radiação terna e não tão inocente viajou rápido como o pensamento de um raio pelo céu noturno, das profundezas dos mortos naquelas cavernas da lua, voou pelo espaço e entrou em mim. E de repente compreendi a lua. Acredite se quiser. A única viagem verdadeira é aquela das profundezas de um ser para o coração de outro, e eu não era nada exceto profundezas abertas em carne viva naquele instante sozinho na varanda, olhando para Sutton Place...".

Norman Mailer (1923-2007).
Um sonho americano (1965). Porto Alegre: L&PM, 2011. p. 21

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