sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ao Sul de Lugar Nenhum

Terminamos o café da manhã e demos um passeio pelos arredores. Todo o lugar não tinha mais de cinco ou seis quarteirões. Todo mundo tinha dezessete anos de idade. Ficavam sentados indiferentes e esperavam. Nem todos. Havia alguns turistas, velhos, determinados a aproveitar suas férias. Espiavam ferozmente as vitrines das lojas e caminhavam, batendo os pés contra o pavimento, emitindo raios que anunciavam: tenho dinheiro, temos dinheiro, temos mais dinheiro do que vocês, somos melhores do que vocês, nada nos preocupa, tudo está uma merda, mas nós estamos bem e sabemos como funcionam as coisas, olhem para nós.

Com suas camisas rosas e verdes e azuis e corpos brancos e simétricos apodrecendo e calções listrados, olhos esvaziados de olhar, bocas desbocadas, caminhavam por aí, cheios de cor, como se cores pudessem ressuscitar a morte e transformá-la em vida. Eles eram uma espécie de carnaval da decadência americana, um desfile, e não faziam ideia da atrocidade que infligiam a si mesmos.

Charles Bukowski, Ao Sul de Lugar Nenhum: histórias da vida subterrânea (1973). Porto Alegre: L&PM, 2011, p. 165-6.

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