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Quando não era isso, era eu ficar sentado durante dias, horas de medo incomunicável, o medo se abrindo no meio do peito como um grande botão em flor, não se podia analisar o que estava acontecendo, imaginar o porquê de tudo aquilo, o que tornava as coisas ainda piores. Horas sentado em uma cadeira no meio de um quarto passam rápidas e impactantes. Cagar ou mijar são esforços tremendos, sem sentido; pentear o cabelo ou escovar os dentes: atos ridículos ou insanos. Cruzar um mar de chamas. Ou servir água em um copo para beber: parece que você não tem direito mesmo a um ato simples como esse. Decidi que estava louco, imprestável, e isso fez com que eu me sentisse sujo. Fui à biblioteca e tentei encontrar livros sobre o que fazia com que as pessoas se sentissem do jeito que eu estava me sentindo, mas os livros não estavam lá, ou, se estavam, eu não podia compreendê-los. Ir até a biblioteca não era nada fácil: todos pareciam tão confortáveis, os bibliotecários, os leitores, todos menos eu. Tive dificuldade até mesmo para usar o banheiro da biblioteca... os vagabundos lá dentro, as bichas me olhando mijar, todos pareciam mais fortes do que eu... despreocupados e seguros.
(...)
A perspectiva do suicídio estava sempre presente, forte, como formigas correndo pelas veias dos pulsos. Suicídio era a única coisa positiva. Todo o resto era negativo. E havia o Lou, feliz, limpando o interior de máquinas de fazer doces para continuar vivo. Ele era mais sábio do que eu.
Charles Bukowski, Ao Sul de Lugar Nenhum: histórias da vida subterrânea (1973). Porto Alegre, L&PM, 2011, p. 181-183.
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