sábado, 28 de agosto de 2010

A Revolução Francesa e os livros

A Literatura de libelo do final do reinado de Luís XV tornou-se devastadoramente pertinente no final do reinado de Luís XVI. Amoldou-se aos fatos de 1787-88, fornecendo uma estrutura geral para um novo suprimento de anedotas e propos. Ajudou os contemporâneos a entenderem as coisas, apresentando-lhes uma narrativa básica que recuava no tempo, passava por Luís XVI e Luís XV e chegava a Luís XIV, Mazarin, Maria de Médicis e Henrique III. O gênero literário que se desenvolvera a partir do obscuro torneio verbal da corte renascentista produziu best-sellers e, no processo de sua evolução, cobriu mais de dois séculos de história política. Incorporou material novo e novas técnicas de retórica num conjunto de histórias, num folclore político, organizado em torno de um tema central com uma moral única: a monarquia degenerara em despotismo. Em vez de propiciar uma discussão séria dos negócios de Estado, essa literatura fechou o debate, polarizou as opiniões e isolou o governo. Atuou segundo o princípio de simplificação radical, uma tática efetiva em tempo de crise, quando a definição de posições obriga o público a tomar partido e a ver as questões como sendo absolutas: isto ou aquilo, preto ou branco, eles ou nós. Em 1787 e 1788, não importava o fato de a Bastilha estar praticamente vazia e Luís XVI não desejar nada mais do que o bem-estar de seus súditos. O regime estava condenado. Perdera o último round na longa luta para controlar a opinião pública. Perdera a legitimidade. (p. 262)

Robert Darnton, Os best-sellers proibidos da França pré-revolucionária. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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