- Quem gostaria?
- Luiz Alfredo.
- Luiz Alfredo de onde?
- Luiz Alfredo da turma do Anchieta de 79, última fila, perto da janela, eu era aquele que sempre perdia a tampa da Bic.
- Sinto muito, seu Eduardo está em reunião.
Luiz Alfredo terá que esperar a reunião do amigo acabar, e isso levará em torno de duas horas e meia. Eduardo é o novo gerente de uma empresa que tem essa mania estranha de fazer longas reuniões para decidir coisas que poderiam ser resolvidas com uma conversa rápida no corredor ou pela internet. Mas ninguém vive sem cafezinho e retórica.
Na reunião, a terceira do dia, Eduardo está falando da importância de quebrar paradigmas e de agregar valor, e sente-se um idiota por repetir expressões que fazem seus subalternos olharem para ele como se estivessem vendo um executivo extraterrestre, um super-homem de gravata. Eduardo sabe que não está agregando valor nenhum com essa conversa pedante e que poderia resolver as coisas com menos formalismo, em linguagem de gente normal.
Mas Eduardo precisa preencher mais uma hora de reunião, pois ele também tem um superior que está checando seu perfil competitivo, que está observando as técnicas motivacionais que ele adota como gerente, que está analisando o desempenho de Eduardo em nível de chefia. Argh.
Eduardo propõe, então, O Desafio. Os subalternos entreolham-se apavorados. Eduardo apresenta gráficos, lâminas, organogramas e por pouco não coloca na roda o seu eletroencefalograma. É necessário manter todos acordados e cientes da missão da empresa: qualidade, produtividade e agilidade. A reunião ultrapassa vinte minutos do tempo previsto. Só então Eduardo retorna a ligação de Luiz Alfredo.
- Dado, até que enfim!
- Fala, Luiz Alfredo.
- Queria uma opinião sua, tenho um funcionário aqui que aumentou em 14% o faturamento da matriz, o que você acha?
- Eu promoveria na hora e adotaria o método dele nas filiais.
- Falou. Vamos bater uma bola hoje?
- Te pego às oito.
- Fechado.
- Luiz Alfredo.
- Luiz Alfredo de onde?
- Luiz Alfredo da turma do Anchieta de 79, última fila, perto da janela, eu era aquele que sempre perdia a tampa da Bic.
- Sinto muito, seu Eduardo está em reunião.
Luiz Alfredo terá que esperar a reunião do amigo acabar, e isso levará em torno de duas horas e meia. Eduardo é o novo gerente de uma empresa que tem essa mania estranha de fazer longas reuniões para decidir coisas que poderiam ser resolvidas com uma conversa rápida no corredor ou pela internet. Mas ninguém vive sem cafezinho e retórica.
Na reunião, a terceira do dia, Eduardo está falando da importância de quebrar paradigmas e de agregar valor, e sente-se um idiota por repetir expressões que fazem seus subalternos olharem para ele como se estivessem vendo um executivo extraterrestre, um super-homem de gravata. Eduardo sabe que não está agregando valor nenhum com essa conversa pedante e que poderia resolver as coisas com menos formalismo, em linguagem de gente normal.
Mas Eduardo precisa preencher mais uma hora de reunião, pois ele também tem um superior que está checando seu perfil competitivo, que está observando as técnicas motivacionais que ele adota como gerente, que está analisando o desempenho de Eduardo em nível de chefia. Argh.
Eduardo propõe, então, O Desafio. Os subalternos entreolham-se apavorados. Eduardo apresenta gráficos, lâminas, organogramas e por pouco não coloca na roda o seu eletroencefalograma. É necessário manter todos acordados e cientes da missão da empresa: qualidade, produtividade e agilidade. A reunião ultrapassa vinte minutos do tempo previsto. Só então Eduardo retorna a ligação de Luiz Alfredo.
- Dado, até que enfim!
- Fala, Luiz Alfredo.
- Queria uma opinião sua, tenho um funcionário aqui que aumentou em 14% o faturamento da matriz, o que você acha?
- Eu promoveria na hora e adotaria o método dele nas filiais.
- Falou. Vamos bater uma bola hoje?
- Te pego às oito.
- Fechado.
Martha Medeiros, Montanha-russa (crônicas). Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 210-11
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