"...fiquei agarrando taças de champanhe dos garçons que às vezes passavam por perto, de vez em quando um canapé, minúsculos quiches, blinis em miniatura com caviar, estranhos indo e vindo, preso e assentindo educadamente em meio à multidão de bem-nascidos, ricos e poderosos...
('Nunca esqueça que você não é um deles', meu colega viciado do departamento de contabilidade tinha sussurrado no meu ouvido quando me viu socializando entre clientes importantes num leilão de arte impressionista e moderna.)
...paralisando e me virando para sorrir com grupos aleatórios quando o fotógrafo passava, detido em fragmentos de conversas extremamente tediosas à minha volta sobre jogos de golfe, política, esportes das crianças, escolas das crianças, terceira, quarta e quinta casa em Hyères, Hyannis, Paris, Londres, Jackson Hole e Júpiter (...).
Teria ficado feliz em sair daquela sala e continuar andando durante dias e meses até chegar a alguma praia do México, talvez alguma costa isolada onde poderia vagar sozinho e usar as mesmas roupas até se desintegrarem e ser o gringo doido com óculos de armação de tartaruga que vivia de consertar cadeiras e mesas."
Donna Tartt (1963-). O pintassilgo (2013). São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 590; 594
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