quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Na biblioteca


"Na biblioteca de paredes altas e mofadas do prédio quase centenário da faculdade, Pedro tentava ler os livros e os capítulos pedidos pelos professores. Mas sua atenção morria sem fôlego no amontoado de palavras estranhas, alheias. Adormecia nas marteladas sem ritmo de frases cada vez mais distantes. Os títulos e subtítulos começaram a soar estridentes, hostis, como uns latidos. Seus olhos se desviavam espontaneamente para as imensas árvores de mais de cem anos no parque em frente, emolduradas pelas janelas muito altas. Ele se demorava ali à toa num torpor, observando a folhagem densa, a profusão dos galhos, a leve transformação das cores e das sombras à medida que o sol baixava."

Rubens Figueiredo (1956-).
Passageiro do fim do dia (2010). São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 44

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