"Quanto mais sua pintura encontra o amor e a admiração dos homens, mais ele busca se esconder, não aparecer, não ser o que foi – não existir, em suma. Tocamos aqui o núcleo do drama de Vincent, fracassar para dar razão ao pai.
Vincent tem uma crise, a que esperava e cujas emoções o exauriam. Mas ela surpreende pela brevidade: apenas uma semana.
Durante esses dias tentou novamente suicidar-se engolindo tintas. A ligação entre esses tubos de tinta e o remorso em relação ao pai parece evidente. Por enquanto, Vincent só tentou suicidar-se ingerindo material de pintura: essência de terebintina ou tintas. Ao mesmo tempo, porém, espera com ansiedade que Peyron o autorize de novo a pintar, pois só isso o equilibra. Está crucificado entre duas forças que não mais domina: o ato de pintar o salva ao mesmo tempo em que o condena. Peyron aceita devolver-lhe seu material. Théo insistiu junto ao doutor e também sugeriu a Vincent desenhar, por ora, para não ter os tubos ao alcance da mão."
David Haziot. Van Gogh. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 288
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