domingo, 13 de abril de 2014

Enforcamento no carvalho



"...chegou o dia da execução. Na carroça, acompanhado por um frade, João do Mato fez sua última viagem como ser vivo. Os enforcamentos em Penúmbria eram feitos num alto carvalho no meio da praça. Ao redor, o povo fazia um círculo.

Já com a corda no pescoço, João do Mato ouviu um assovio entre os galhos. Ergueu o rosto. Descobriu Cosme com o livro fechado. 

– Conta como termina – pediu o condenado.

– Lamento dizer, João – respondeu Cosme –, Jonas acaba pendurado pela garganta.

– Obrigado. O mesmo aconteça comigo! Adeus! – E ele mesmo deu um pontapé na escada, enforcando-se.

Quando o corpo parou de se debater, a multidão foi embora. Cosme permaneceu até a noite, apoiado no ramo do qual pendia o enforcado. Todas as vezes que um corvo se aproximava para bicar os olhos ou o nariz do cadáver, Cosme o expulsava agitando o gorro."

Italo Calvino (1923-1985). O barão nas árvores (1957). São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 107-8

Nenhum comentário: