domingo, 19 de maio de 2013

Artesão



"Quero trabalhar a minha morte e não deixam.
Obrigam-me a morrer a morte alheia
e a viver
a entrecortada vida com artigos, orgasmos, aulas
e a asfixiante dispersão urbana.

Minha morte, no entanto, me chama, me espera.
Às vezes, desconfiada, impaciente outras.
Quer dedicação. Preciso trabalhá-la.
Não como o suicida
e seu compulsivo equívoco,
mas como o artesão."

Affonso Romano de Sant'Anna. Poesia reunida - Volume 2. Porto Alegre: L&PM, 2007, p. 217

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