sexta-feira, 19 de abril de 2013

Na montanha



"Foi lindo. O tom rosado desapareceu e então um anoitecer arroxeado se impôs e o bramir do silêncio parecia o murmúrio de uma maré de diamantes que atravessava as camadas líquidas dos nossos ouvidos, suficiente para acalmar um homem durante mil anos. Rezei por Japhy, por sua segurança e felicidade futuras e para que ele se tornasse um Buda no final. Tudo aquilo era completamente sério, tudo completamente alucinado, tudo completamente feliz. (...)

Todos os músculos doloridos e a fome na minha barriga já estavam bem ruins, e as pedras escuras que nos rodeavam, o fato de que não havia nada ali para acalmar você com beijos e palavras gentis, mas bastava estar ali meditando e orando pelo mundo acompanhado de outro jovem intenso - já estava bom demais ter nascido só para morrer, como todos nós. Algo resultará disso nas vias lácteas da eternidade que se estendem à frente de nossos olhos espectrais nada amarelados, meus amigos. Tive vontade de dizer a Japhy tudo que estava pensando mas sabia que não fazia diferença e além disso ele já sabia mesmo e o silêncio é a montanha dourada."

Jack Kerouac. Os vagabundos iluminados (1958). Porto Alegre: L&PM, 2011. p. 75-6

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