adoro as pequenas burguesas de Tchecov
com suas vidas suspensas,
como coaguladas, vagando entre
cristais e coisa nenhuma,
no circo das circunvoluções do nada
enquanto paira sempre no ar o segredo
não revelado, a palavra impronunciada
o eterno adiamento da aventura
o desejo de ir a Moscou
o eco de um baile em São Petersburgo
e essas criaturas sempre confinadas
entre nada e coisa nenhuma
em suas ânsias e insignificâncias
até depois do fim do fim do mundo
quando o provável deus ex machina
decreta que haverá outro princípio
e elas voltam a vagar como fantasmas
em meio à mediocridade do infinito
Geraldo Carneiro (1952-). Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. p. 126
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