quarta-feira, 2 de junho de 2010

Liderança não é gerência

Gosto de começar meus seminários de liderança com a seguinte declaração: "Sempre parto do pressuposto que todos vocês são excelentes gerentes, possuem uma sólida competência técnica e são eficientes na realização de suas tarefas. Por isso, antes mesmo de começarmos, vou dar nota dez em habilidades gerenciais para cada um de vocês. Tudo indica que vocês possuem todas as chances de assumir posições de liderança. Mas, se virem até aqui para ouvir sugestões para serem gerentes melhores, devo dizer que estão na sala errada. Nós estamos aqui para falar sobre liderança, não sobre gerência".

Planejamento, orçamento, organização, solução de problemas, controle, manutenção da ordem, desenvolvimento de estratégias e várias outras coisas - gerência é o que fazemos, liderança é quem somos.

Conheço ótimos gerentes que naufragaram quando se viram diante da tarefa de liderar pessoas, inspirando-as a fazerem grandes coisas. O inverso é verdadeiro. Muitos líderes eficientes são gerentes sofríveis, como o provam Winston Churchill, Franklin Delano Roosevelt e Ronald Reagan. Eles não entraram para a história por serem considerados "bons gerentes".

O estilo que caracteriza o "bom gerente" é, em geral, autoritário e centralizador. Sim, muitos acreditam erroneamente que um gerente eficiente deve ter todas as respostas, resolver todos os problemas e, acima de tudo, manter o controle.

Quando recebem algum treinamento de liderança, o foco é sempre voltado para o lado operacional. Ou seja: tem o objetivo de tornar as pessoas capazes de administrar coisas, não o de fazer com que liderem e inspirem as outras à ação.

As habilidades técnicas orientadas para o resultado que levaram muitos gerentes a posições de liderança não são exatamente as melhores ferramentas para inspirar os outros a fazerem um bom trabalho.

Liderar significa conquistar as pessoas, envolvê-las de forma que colquem seu coração, mente, espírito, criatividade e excelência a serviço de um objetivo. É preciso fazer com que se empenhem ao máximo na missão, dando tudo pela equipe.

Você não gerencia pessoas. Você lidera pessoas. (p. 19-20)

(...)

Quando se está numa posição de liderança, a medida do sucesso muda. Os esforços realizados para agir da forma certa, os depósitos em contas bancárias emocionais, o empenho em ensinar, treinar e estimular as pessoas - tudo isso pode demorar a dar frutos.

Essa é uma situação que pode ser muito frustrante para quem está acostumado a ter uma gratificação imediata, com direito a resultados quantificáveis no final do dia. (p. 36).

(...)

Minha mãe podia me pedir para fazer qualquer coisa, e eu não pensava duas vezes a respeito. Lembro que ela não tinha mais poder algum sobre mim - eu podia correr mais depressa do que ela, agora que era adulto. Mas mamãe tinha muita autoridade. De onde ela tirou sua autoridade? Que seminário sobre habilidades de supervisão ela cursou? A verdade é que mamãe sempre serviu. Eu faria qualquer coisa por ela. (p.38).

(...)

Poder é a capacidade de obrigar, por causa de sua posição ou força, os outros a obedecerem à sua vontade, mesmo que eles preferissem não fazê-lo. Weber, em sua definição básica de poder, diria: "Faça isso, senão vai ver!"

O raciocínio é o seguinte: se eu tenho a habilidade de derrotá-lo, bombardeá-lo, espancá-lo ou despedi-lo, posso forçá-lo a obedecer à minha vontade.

Autoridade é muito diferente de poder, já que ela envolve a habilidade de levar os outros a fazerem - de bom grado - sua vontade. Na visão de Weber, a definição de autoridade seria: "Farei isso por você".

Outra maneira de observar a diferença entre autoridade e poder é a seguinte: O poder pode ser comprado e vendido, dado e tirado. Ou seja: laços de parentesco ou amizade realmente conseguem colocar uma pessoa numa posição de poder, mas isso já não acontece com a autoridade - ela é a essência da pessoa, está ligada a seu caráter. (p.32).

James C. Hunter, Como se tornar um líder servidor: os princípios de liderança de O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.


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