"(...) podemos vislumbrar o espírito que prevalecia na mente daquele estadista-filósofo, tantas vezes comparado aos founding fathers norte-americanos, nos gloriosos anos de 1821 e 1822, quando os horizontes que se abriam para a construção de um Brasil independente e próspero pareciam vastos e luminosos. As dinâmicas políticas posteriores, no entanto, abortaram todos os seus projetos. Em julho de 1823 ele foi forçado a abandonar o ministério. Em novembro do mesmo ano foi preso e exilado na França, onde permaneceu até 1829. A elite dos grandes proprietários, que constituía a base do poder econômico e político, não estava disposta a acompanhá-lo em seus propósitos de extinguir a escravidão, dividir as propriedades e combater a rotina predatória e lucrativa da monocultura exportadora. Esse foi o motivo profundo da sua queda, muito mais do que os conflitos conjunturais e intrigas políticas em que se envolveu. É verdade que a sua prepotência no exercício do poder, somada à incapacidade para estabelecer acordos e alianças, contribuiu para sua derrota política. Bonifácio era fundamentalmente um intelectual, que tentou exercer o governo com a mesma impetuosidade com que participava dos debates acadêmicos. O seu desprezo por ostentações de riqueza, títulos de nobreza e artificialismos de etiqueta, além disso, provocou desavenças com a elite da monarquia emergente. Mas tudo isso é relativamente secundário diante da ameaça que o seu projeto quase revolucionário de mudança social e ambiental colocava para essa mesma elite". (p. 158)
José Augusto Pádua, Um Sopro de Destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
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