Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa. Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia.
Adélia Prado
Um comentário:
Que fantástico esse poema...
Só discordo da parte em que ela fala que não faz sentido ir ao cemitério "pra chorar, qualquer lugar me cabe".
Um dia, eu quero fazer o contrário. Quero ir ao cemitério e ficar lá um bom tempo. Pra chorar tudo o que já trancafiei em mim. O bom de chorar no cemitério é porque lá, choramos sem incomodar ninguém. O choro é a roupa adequada a quem vai a um cemitério. Ninguém o perguntará por que você chora. Há sossego. Um dia farei essa terapia.
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