Somos assim: sonhamos o vôo, mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é o oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam.
Rubem Alves, Correio Popular, 22/05/2005
Rubem Alves, Correio Popular, 22/05/2005
Um comentário:
Ei Flávio... Esse post me fez lembrar o texto "O medo", do Galeano.
"Certa manhã, ganhamos de presente um coelhinho das Índias.
Chegou em casa numa gaiola. Ao meio-dia, abri a porta da gaiola.
Voltei para casa ao anoitecer e o encontrei tal e qual o havia deixado: gaiola adentro, grudado nas barras, tremendo por causa do susto da liberdade".
(GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços.Trad. Eric Nepumuceno. Porto Alegre: L&PM, 1991)
Liberdade às vezes assusta. Embora deva ser uma coisa tão boa. Acho que ninguém a conhece por completo.
Adoro passear pelo seu blog.
Abrços,
Vivi
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