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Freqüentei escolas por dezessete anos: quatro anos no curso primário, um no curso de admissão, quatro no ginásio, três no curso científico e cinco no curso superior. Multipliquei o número de meses, pelo número de dias, pelo número de horas, pelo número de anos: cheguei ao número 16.320 – o número de horas que passei assentado em carteiras ouvindo as coisas que os professores tentavam me ensinar. É claro que esse número deve estar errado. Seja. De qualquer forma, é muito tempo o tempo de vida que se passa assentado nos bancos escolares. O que sobrou? (...)
Não me lembro das classificações das rochas. Lembro-me dos nomes “dolomitas” e “piroclásticas”, mas não sei o que significam. Esqueci-me do “crivo de Erastóstenes”. Não sei fazer raiz quadrada. Não sei onde se encontra a serra da Mata da Corda. Também me esqueci das dinastias dos faraós e dos nomes dos imperadores romanos. Lembro-me do princípio de Arquimedes, mas não sei a lei de Avogadro. Não aprendi Latim, o que me causa grande dor porque Latim é música. Sei pouquíssimo de análise sintática, o que não me faz falta para escrever. Escrevo com meu ouvido. Acho que dos 100% de saberes que as escolas tentaram enfiar dentro de mim só sobrariam uns 10%. Você depositaria suas economias mensalmente, num fundo de investimento, por dezessete anos, se você soubesse que depois desses dezessete anos você iria receber só 10% do que você depositou?
Rubem Alves
Fonte: A casa de Rubem Alves
Um comentário:
Flávio, boa noite:
O que podemos comentar sobre o texto de Rubem Alves? Nada... apenas concordar com cada vírgula.
Por isso, precisamos ensinar aos nossos alunos sobre a vida. Às vezes desencantá-los com algo da realidade...
Enfim, tratá-los como seres humanos cognoscentes. Aproveitar o que trazem consigo, sem subvertê-los.
Ensinar-lhes outras maneiras de ver o mesmo tema. E o respeito, infundir-lhes o espírito de comunidade...
Enfim... Ser professor é mesmo muito, muito difícil...
abraços, Joandre
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