"A maior parte das coisas pode ser considerada sob pontos de vista muito diferentes: interesse geral ou interesse particular, principalmente. A nossa atenção, naturalmente concentrada sob o aspecto que nos é proveitoso, impede que vejamos os outros. O interesse possui, como a paixão, o poder de transformar em verdade aquilo em que lhe é útil acreditar. Ele é, pois, freqüentemente, mais útil do que a razão, mesmo em questões em que esta deveria ser, aparentemente, o guia único. Em economia política, por exemplo, as convicções são de tal modo inspiradas pelo interesse pessoal que se pode, em geral, saber previamente, conforme a profissão de um indivíduo, se ele é partidário ou não do livre câmbio [...]. O interesse, sob todas as suas formas, não é somente gerador de opiniões. Aguçado por necessidades muito intensas, ele enfraquece logo a moralidade. O magistrado ávido de promoção, o cirurgião em presença de uma operação inútil porém frutuosa, o advogado que enriquecerá com complicações de processo que ele poderia evitar, terão rapidamente a moral muito abalada se imperiosas necessidades de luxo lhes estimularem o interesse. Essas necessidades podem constituir, nas naturezas superiores, um elemento de atividade e de progresso, mas nas naturezas medíocres determinam, pelo contrário, uma acentuada degenerescência moral".
Gustave Le Bon (1841-1931)
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