"na conversa da brunilde vinha também recado de coisa medonha. juntos
os homens da terra haveriam de levar à praça, em alarido e confusão,
mulher que se portara mal de tanto tempo que nada a salvaria por comando
da dignidade de deus. era mulher velha e matreira, enfiada em casa,
sozinha de maridos, postos em terra cedo de mais, consumidos por pó que
lhes cozinhava para os abater. era mulher de tanto delírio interior como
por fora tinha o ar frio das víboras, olhos fixos a queimar
almas, e nada do que dizia queria dizer o que se ouvia, impregnando
tudo e todos de mau-olhado para os definhar em seu favor. era mulher de
maldades conhecidas e provadas, mas ainda assim só à revelia do padre a
levariam à praça para lhe pôr fogo nas ventas, a ver se lhe coincidiam
as chamas com o seu lugar no inferno. e muitos diziam que haveria de
arder aflita de prazer, a sentir-se em casa no meio de tão grande calor,
desaparecendo como quem vai de um lugar para outro."
valter hugo mãe (1971-). o remorso de baltazar serapião (2006). São Paulo: editora 34, 2010, p. 74
Nenhum comentário:
Postar um comentário