"Os dragões não permanecem. Os dragões são apenas a anunciação de si
próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estreiam. As cortinas não
chegam a se abrir para que entrem em cena. Eles se esboçam e se esfumam
no ar, não se definem. O aplauso seria insuportável para eles: a
confirmação de que sua inadequação é compreendida e aceita e admirada, e
portanto — pelo avesso igual ao direito — incompreendida, rejeitada,
desprezada. Os dragões não querem ser aceitos. Eles fogem do paraíso,
esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos (...). Os dragões
não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem
cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu
paraíso é o conflito, nunca a harmonia."
Caio Fernando Abreu (1948-1996)
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