"Sente que uma parte do chão que a sustenta está sendo arrancada. O
peso existente no interior de seu corpo desaparece e ele se transforma
numa caverna. Os órgãos, a sensibilidade, os músculos e a memória, tudo
que, até então, fazia com que ela fosse ela aos poucos e habilmente vai
sendo retirado por alguém. Em decorrência disso, ela sabe que já não é
mais nada, a não ser uma existência conveniente que só serve de passagem
para as coisas exteriores. Um profundo sentimento de isolamento
apodera-se dela, deixando-a totalmente arrepiada. Ela grita bem alto:
'Não! Eu não quero que me transformem nisso!' Mas, apesar de achar que
está gritando, na prática a voz que lhe sai da garganta é baixinha, um
quase nada."
Haruki Murakami (1949-). Após o anoitecer (2004). Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 119
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