quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Após o anoitecer

"Sente que uma parte do chão que a sustenta está sendo arrancada. O peso existente no interior de seu corpo desaparece e ele se transforma numa caverna. Os órgãos, a sensibilidade, os músculos e a memória, tudo que, até então, fazia com que ela fosse ela aos poucos e habilmente vai sendo retirado por alguém. Em decorrência disso, ela sabe que já não é mais nada, a não ser uma existência conveniente que só serve de passagem para as coisas exteriores. Um profundo sentimento de isolamento apodera-se dela, deixando-a totalmente arrepiada. Ela grita bem alto: 'Não! Eu não quero que me transformem nisso!' Mas, apesar de achar que está gritando, na prática a voz que lhe sai da garganta é baixinha, um quase nada."

Haruki Murakami (1949-). Após o anoitecer (2004). Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 119

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