domingo, 22 de junho de 2014

Singrávamos para a África



"Nosso navio tinha nome: Amiral-Bragueton. Só devia se manter em cima daquelas águas mortas graças à sua pintura. Tantas demãos acumuladas tinham acabado por lhe formar uma espécie de segundo casco para o Amiral-Bragueton, que nem uma cebola. Singrávamos para a África, a verdadeira, a grande; essa das insondáveis florestas, dos miasmas deletérios, das solidões invioladas, rumo aos grandes tiranos negros aboletados nos cruzamentos de rios que nunca mais que acabam. Em troca de um pacote de lâminas Pilett eu ia contrabandear com eles marfins do tamanho de um bonde, pássaros flamejantes, escravas menores de idade. Juro que ia. Isso é que é vida, ora se é!" 

Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Viagem ao fim da noite (1932). São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 123

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