"Houve um tempo, quando ainda era uma criança inocente, em que acreditou que a inteligência era a única coisa que importava, que, se fosse bastante inteligente, obteria tudo o que desejasse. Ir para a universidade o pôs em seu lugar. A universidade demonstrou que não era o mais inteligente, nem de longe. E agora se vê diante da vida real, onde não pode contar nem com os exames. Na vida real tudo o que sabe fazer bem, ao que parece, é ficar deprimido. Na depressão ele ainda é o melhor da classe. Parece não haver limite para a depressão que consegue atrair para si e suportar. Nem quando se arrasta pelas ruas frias dessa cidade estranha, indo para parte nenhuma, andando apenas para se cansar, para, ao voltar a seu quarto, poder ao menos dormir, não sente dentro de si a menor disposição de se deixar esmagar pelo peso da depressão. A depressão é o seu elemento. Na depressão sente-se em casa, como um peixe dentro da água. Se a depressão for abolida, não saberá o que fazer consigo."
J. M. Coetzee (1940-). Juventude (2002). São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 66
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