Tem gente que sofre horrores para se enquadrar no modelo burguês de família perfeita: padrão de vida elevado, filhos com inteligência acima da média e sem nenhum desvio de comportamento, pais exemplares em todos os quesitos da perfeição: amorosos, bem sucedidos, respeitados, baluartes da moral e dos bons costumes, etc. Nesse modelo, as falhas, quando surgem, devem ser rapidamente corrigidas, para não comprometerem a harmonia do quadro, a imagem de sucesso e felicidade que se quer passar.
O meu modelo de família é mais flexível: acolhe melhor as imperfeições, os tropeços, as sinuosidades dos caminhos. O que dá para resolver, a gente resolve. O que não dá, a gente vive. E não se preocupa em mascarar, fingir. Para quê?
Em casa não tenho super-filhos nem super-esposa. Não sou super-pai nem super-marido. Não somos super nada. Somos o que damos certo e o que fracassamos. O que se enquadra e o que foge para as margens. O que aprendemos, sofrendo ou não. O que vivemos, felizes ou não.
Somos o que somos.
Comparações com outras famílias não nos ferem, porque, quase sempre, o que se compara com o que somos ou temos não representa, para nós, o essencial, o que realmente importa para uma vida plena e feliz, mas o excesso, o desnecessário. Nossa opção foi pelo simples, mas com direito a algumas gracinhas de vez em quando.
Flávio Marcus da Silva
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