- Luís - Marcos comentou -, quando aqui estive, passei por este trabalho, e estavam comigo dois desencarnados que queriam se vingar e disseram ter agido inclusive instigados pela vontade de dois encarnados.
- Alguns desencarnados vingativos aguardam os encarnados, a quem querem prejudicar, caírem na vibração infeliz para poderem agir. Certamente, conseguiram prejudicá-lo, em virtude de você ter ofendido a outros, e eles, revidando, desejaram-lhe o mal.
- Que será deles? Por que estavam comigo?
- Se receberam orientação aqui e foram encaminhados, estão bem. O porquê, o motivo de eles quererem se vingar, pode estar no passado distante. Se um dia recordar suas outras existências, poderá saber o motivo.
- Devo tê-los ofendido, gostaria de pedir-lhes perdão.
- Numa rixa, há culpa de ambos os lados. Ofendidos devem perdoar e não guardar rancores, e ofensores devem arrepender-se e reparar a falta. Se eles se encaminharam, perdoaram-no e, se um dia houver necessidade, a vida os aproximará. O que importa, Marcos, é que você também foi prejudicado por eles e os perdoou.
- Luís, lembro-me, agora, das propostas que fiz e que não cumpri. Mas a culpa também foi de Mara, que me impediu.
- Marcos, meu companheiro, não jogue a culpa de seus atos em outros. Se quisesse, se tivesse realmente vontade, teria feito. Deixou-se dominar por ela, porque no fundo era isto o que desejava. Mara é realmente voluntariosa e, para você, foi mais cômodo atendê-la. Do mesmo modo, muitos aqui no plano espiritual dizem: "Não trabalhei espiritualmente, quando encarnado, não atendi a conselhos e apelos de amigos, porque minha esposa, ou meu esposo, filhos etc. impediram-me". Outros desculpam-se dizendo que eram pobres, não tinham nada para dar, eram necessitados. São desculpas que dão a si mesmos. Esquecem que pobre materialmente pode dar de si fluidos, bondade, horas de trabalho, orações. Necessitados? Há tantos modos de se passar de necessitados a colaboradores, e todos têm essa obrigação, só não se transformam os acomodados e os que realmente não querem. Nem a doença física é empecilho para quem quer ser útil. O cego pode usar a palavra; o mudo, as mãos, etc. Exemplos não faltam: desencarnou há pouco Jerônimo Ribeiro Mendonça, um tetraplégico e cego, que com seus livros e palestras chamou muitos irmãos ao caminho do bem e, com seus exemplos, incentivou muitos a se resignarem, a serem como ele.
E os necessitados espiritualmente - Luís continuou, após ligeira pausa - podem mudar de hábitos e atitudes, evangelizando-se e seguindo o caminho do bem, porque assim as dificuldades serão ultrapassadas. É sempre mais fácil colocar a culpa de nossas falhas e fracassos nos outros, como se eles fossem donos do nosso livre-arbítrio. Quando queremos, sempre damos um jeito, embora reconhecendo que, em muitas ocasiões, os empecilhos são fortes e que se necessita de muita coragam para vencê-los. Mas este não foi o caso que mencionamos.
Marcos abaixou a cabeça, mas foi abraçado amorosamente pelo instrutor, pois entendeu que não recebera uma censura, porém preciosa lição.
- É verdade, Luís, não foi o meu caso. A "porta larga" me foi mais cômoda, mais fácil. Tentava isentar-me, culpando Mara. Aqui, neste local, prometi dedicar-me aos pobres, às crianças doentes, carentes de médicos e remédios. Adiei, deixei para amanhã o que poderia ter feito e... não tive amanhã! Penso mesmo que adiaria sempre e sempre esse "amanhã".
- Quando podemos fazer, é nosso dever realizar. Adiar, ou não fazer, é tarefa não cumprida, é lição não aprendida. Sofremos muito quando podemos e não fazemos o bem.
- Será, Luís, que um dia serei digno de trabalhar em nome de Jesus?
- Poucos de nós são dignos de trabalhar em nome de Jesus, mas como a Sua misericórdia é grande, todos os de boa vontade poderão fazê-lo. Basta querer!
Quando todos foram atendidos, reuniram-se os médiuns na frente da figura de Jesus e oraram a prece de Cáritas: uma chuva de fluidos salutares, coloridos, caiu sobre todos, terminando o trabalho da noite.
Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho (pelo espírito Antônio Carlos), Muitos são os chamados. São Paulo: Petit, 1992, p. 129-131.