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(...)
Silêncio.
Se um dia Deus vier à terra haverá silêncio grande.
O silêncio é tal que nem o pensamento pensa.
O final foi bastante grandiloquente para a vossa necessidade? Morrendo ela virou ar. Ar enérgico? Não sei. Morreu em um instante. O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada.
Eu vos pergunto:
- Qual é o peso da luz?
E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?!
Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
Sim.
Clarice Lispector, A Hora da Estrela (1977). 6ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981, p. 29/p.103-4
Um comentário:
Flávio, estamos com o filme sobre o livro em casa. Se não tiver assistido e quiser assistir, emprestamos, tá?
Abraço!
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