sábado, 15 de fevereiro de 2014
Desfazer-me...
"Desmanchar-me pouco a pouco,
pedra a pedra, palmo a palmo,
para ser sincero e louco.
Desnudar-me peça a peça,
gesto a gesto, corpo a corpo,
para ir ao que interessa.
Descoser-me fibra a fibra,
nervo a nervo, laço a laço,
para ver se a carne vibra.
Desachar-me passo a passo,
braço a braço, porto a porto,
para não sentir cansaço.
Despojar-me dentro e fora,
caso a caso, coisa a coisa,
para estar depois e agora.
Desfazer-me até meu feto,
lance a lance, porre a porre,
para nunca estar completo."
Leonardo Fróes (1941-). Vertigens (Obra reunida, 1968-1998). Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 45-6
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