"A vida só sucede quando deixamos de a entender. Nos últimos tempos, meu querido Mwanito, estou longe de qualquer entendimento. Nunca me imaginei viajando para África. Agora não sei como regressar à Europa. Quero voltar para Lisboa, sim, mas sem memória de alguma vez já ter vivido. Não me apetece reconhecer nem gente, nem lugares, nem sequer a língua que nos dá acesso aos outros. É por isso que me dei tão bem em Jesusalém: tudo era estranho e não prestava contas sobre quem era, nem que destino devia escolher. Em Jesusalém, a minha alma se tornava leve, desossada, irmã das graças."
Mia Couto (escritor moçambicano). Jesusalém (2009)
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