sábado, 16 de novembro de 2013

Inveja



"A inveja existe nas relações humanas em doses muito mais elevadas do que a gente pensa. Por que digo isso? Porque a inveja é – e sabe que é – tão feia que se esforça terrivelmente para se camuflar. É como a víbora que procura todos os modos de se esconder. Quanto mais feia é a sua cara, mais bonitos os disfarces que usa.

Em outras palavras: a inveja é sumamente racionalizante, isto é, busca ‘razões’ para se disfarçar. Por isso assume ares razoáveis, poses objetivas. Diz a inveja: ‘Apresento-lhes cinco razões para demonstrar que fulano é um fracassado’. Mas as cinco razões são pura fachada; a verdadeira razão é a sexta: a inveja. Diz a inveja: ‘Fulana não está fazendo tão bem quanto vocês dizem: não perceberam que falta brilho no seu rosto, que isso e mais aquilo, que não há vigor em sua entonação?...’ Diz a inveja: ‘Fulano não serve para esse cargo: sua pedagogia não está atualizada, seu poder de persuasão é relativo, sua capacidade de comunicação é medíocre; hoje a sociedade precisa de homens com outras ideias’, etc. etc.

É assim que a inveja se disfarça. Nunca ataca a descoberto, sempre encolhida embaixo das asas das ‘razões’. Assim, amparada pela racionalização, vegeta e engorda dando picadas, minimizando os méritos, apagando todo o brilho.

As pessoas sofrem muito por causa da inveja". 

Inácio Larrañaga (1928-2013). Sofrimento e Paz: Para uma Libertação Pessoal. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 1995, p.105

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