terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A vida como ela é

Durante dez anos, de 1951 a 1961, Nel­son Rodrigues escreveu sua coluna A vida como ela é… para o jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Seis dias por sema­na, chovesse ou fizesse sol. A chuva podia ser como “a do quinto ato do Rigoletto” e o sol, daqueles “de derreter catedrais”, se­gundo ele. Todo dia, com uma paciência chinesa e uma imaginação demoníaca, Nelson escrevia uma história diferente. E quase sempre sobre o mesmo assunto: adultério. Desse tema tão simples e tão eterno, ele extraiu quase 2 mil histórias. Os ficcionistas que fingem se levar a sé­rio precisam de toda uma aura de misté­rio para criar. Nelson dispensava esse mis­tério. Chegava cedinho à redação, acendia um cigarro e, na frente dos colegas, entre miríades de cafezinhos, escrevia A vida como ela é… As histórias saíam de casos que lhe contavam, da sua própria obser­vação dos subúrbios cariocas ou das cabe­ludas paixões de que ele ouvira falar em criança. Mas principalmente da sua me­ditação sobre o casamento, o amor e o desejo.

Nenhum comentário: