terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Tristeza

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!

Um sino dobra em mim Ave-Maria!

Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,

Faz na vidraça rendas de Veneza...

O vento desgrenhado chora e reza

Por alma dos que estão nas agonias!

E flocos de neve, aves brancas, frias,

Batem as asas pela Natureza ...

Chuva ... tenho tristeza! Mas porquê?!

Vento ... tenho saudades! Mas de quê?!

Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!

Gritem ao mundo inteiro esta amargura,

Digam isto que sinto que eu não posso!!...


Florbela Espanca [1894-1930]

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