(...) um outro amigo, R., me contou sobre certo livro raro que ele vinha tentando localizar sem sucesso, vasculhando livrarias e catálogos em busca de uma obra supostamente notável, que ele queria muito ler, e como, certa tarde, enquanto andava pela cidade, ele tomou um atalho pela estação Grand Central, subiu a escada que vai dar na avenida Vanderbilt e avistou uma jovem de pé junto à balaustrada de mármore, com um livro nas mãos: o mesmo livro que ele vinha tentando localizar tão desesperadamente.
Embora não seja do tipo que costuma falar com estranhos, R. ficou espantado demais com a coincidência para conseguir permanecer calado. "Acredite ou não", disse ele à jovem, "eu tenho andado à procura desse livro por toda parte."
"Ele é maravilhoso", respondeu a jovem. "Acabei de ler neste instante."
"Sabe onde posso achar outro exemplar?", perguntou R. "Não posso nem lhe dizer o quanto isso significa para mim."
"Este aqui é para você", respondeu a mulher.
"Mas ele é seu", disse R.
"Ele era meu", respondeu a mulher, "mas agora eu já acabei de ler. Eu vim aqui hoje para entregá-lo a você."
Paul Auster, O caderno vermelho
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