Conversei recentemente com uma jovem que tinha trabalhado nove anos nos Estados Unidos e que hoje mora em Belo Horizonte com o marido e os filhos, tem casa própria, uma empresa bem estabelecida, carro do ano e uma poupança bem fornida, frutos de muito trabalho e dedicação na Meca do Capitalismo Ocidental.
O que mais me surpreendeu na conversa que tivemos foi o conteúdo das histórias por ela contadas, narrando suas experiências na terra do Tio Sam. Nelas, o verbo mais utilizado foi, sem dúvida, o “comprar”. Além de juntar dinheiro, essa jovem (integrante de uma equipe de faxina, que “fazia três ou quatro casas por dia”) comprava muito, geralmente produtos de consumo popular nos Estados Unidos, mas que, aqui no Brasil, são relativamente caros: televisões, computadores, celulares, tênis das marcas Nike ou Puma (originais), iphone, ipod, playstation, etc. De lá ela trouxe, só para ela, 50 pares de tênis de marca, que ela nem sabe se vai usar. Isso porque o Capitalismo é muito eficaz na criação de novas modas e novos desejos, de forma a estimular o consumo desenfreado da população que, bombardeada por propagandas sedutoras, muitas vezes abandona bens em bom estado de conservação para adquirir produtos da moda, novas tecnologias, novas marcas...
O fato é que, ao consumir, muita gente se preocupa, acima de tudo, em criar em torno de si uma imagem de prosperidade e sucesso, já que no mundo capitalista os bens materiais não são simplesmente artigos de utilidade, mas também símbolos de status social.
Imagino que o leitor conheça alguém que se endividou absurdamente para financiar um carro importado pelo simples desejo de transmitir à sociedade uma imagem de poder e riqueza. Uma imagem falsa - porque, na sua essência, o Capitalismo é falso, artificial, efêmero e, muitas vezes, cruel.
No mundo de hoje, o desejo de riqueza, poder e ostentação tem se sobreposto a valores essenciais para a harmonia da sociedade, como a humildade, a generosidade, o altruísmo e o amor ao próximo. Somos fantoches de um sistema que nos quer consumistas, bem sucedidos e orgulhosos; que quer que nos preocupemos em ser ricos e poderosos ou, pelo menos, em aparentar riqueza e poder (o que, além de ridículo, pode gerar frustração, depressão e até suicídio).
Pense nisso, leitor. Reflita mais sobre o que é realmente essencial na sua vida e procure, acima de qualquer coisa, ser feliz e viver em paz e harmonia com o próximo.
Para reflexão, deixo você com um trecho do livro Quando Nietzsche chorou, de Irvin D. Yalom:
"Chegar aos quarenta abalou a idéia de que tudo me era possível. Subitamente, entendi o fato mais óbvio da vida: que o tempo é irreversível, que minha vida estava se consumindo. É claro que eu já sabia disso antes, mas sabê-lo aos quarenta foi uma espécie diferente de saber. Agora, sei que o rapaz infinitamente promissor foi meramente uma ordem de marchar, que promissor é uma ilusão, que infinitamente não tem sentido e que estou em fileira cerrada com todos os outros homens em direção à morte."
Flávio Marcus da Silva
Pará de Minas, 08 de julho de 2010