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Saímos de Sacramento com o sol raiando e na hora do almoço já estávamos cruzando o deserto de Nevada, depois de uma vertiginosa passagem pelas Sierras que obrigou a bichona e os turistas a se agarrarem uns aos outros no banco de trás. Agora íamos na frente, estávamos no comando. Dean estava feliz outra vez. Tudo o que ele precisava era de uma roda na mão e quatro na estrada. Falava de quão mal Old Bull Lee dirigia e fez umas demonstrações: "Sempre que aparece algum caminhão gigantesco e sobrecarregado como aquele que vem vindo ali, Old Bull leva um tempo interminável para percebê-lo porque não consegue enxergar direito. Ele simplesmente não vê". Apertou furiosamente os olhos para imitar a cara de Old Bull ao volante. "E eu dizia a ele: 'Ei, cuidado Bull, um caminhão'. E ele respondia: 'O quê? O que foi que você disse, Dean?' 'Caminhão, caminhão.' E no último segundo ele jogava o carro contra o caminhão, assim." E Dean se jogou com o Plymouth de encontro ao caminhão que avançava na direção oposta, dançando e rebolando à sua frente por um instante, dando tempo de ver a fúria na cara do caminhoneiro crescendo rapidamente à nossa frente, e o pessoal do banco de trás se encolhendo ofegante, arfando, todos horrorizados, e no último segundo Dean desviou. "Era bem assim, sabe, exatamente assim, oh, como ele dirigia mal." Eu não estava nem um pouco assustado; conhecia Dean. Mas o povo no banco de trás perdeu a voz. Na verdade, tinham medo de reclamar. Sabe-se lá Deus o que o Dean seria capaz de fazer se eles tivessem a audácia de reclamar, pensavam. Ele tocou o pé na tábua cruzando todo o deserto dessa maneira, fazendo várias demonstrações de como não dirigir, de como seu pai guiava seus calhambeques, como os grandes motoristas se lançam rápido demais no começo e acabam derrapando no fim da curva, e assim por diante." (p. 259)
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"Oh, esses caipiras burros, estúpidos, tapados, jamais mudarão, são completa e absolutamente estúpidos. Chega o momento de agir e eles ficam paralisados, histéricos, assustados - nada os amedronta mais do que aquilo que querem (...)." (p. 265)
Jack Kerouac (1922-1969), On the Road (1957); tradução de Eduardo Bueno, Porto Alegre: L&PM, 2009
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