Junto à ponte do ribeirão
Meninos brincam nus dentro da água faiscante.
O sol brilha nos corpos molhados,
Cobertos de escamas líquidas.
Da igreja velha, no alto do morro,
O sino manda lentamente um dobre fúnebre.
Na esquina da cadeia desemboca o enterro.
O caixão negro, listado de amarelo,
Pende dos braços de quatro homens de preto.
Vêm a passo cadenciado os amigos, seguindo,
O chapéu na mão, a cabeça baixa.
As botas rústicas, no completo silêncio,
Fazem na areia do chão o áspero rumor de vidro
[ moído.
O sino dobra vagaroso: dobre triste
Na tarde clara que dá pena de morrer.
Cheios do inexplicável respeito pela morte
Os meninos correram para baixo da ponte,
Como se a sua nudez pura pudesse ofender a
[ morte.
Vai agora subindo o morro do cemitério
O caixão negro listado de ouro.
Já não se vê mais, desapareceu atrás do mato.
E na água fugitiva do ribeirão
Os corpos nus cambalhoteiam de novo
Com o sentimento espontâneo e invencível da
[ vida.
Rui Ribeiro Couto (1898-1963)
sábado, 26 de dezembro de 2009
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Idades
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
[APART]
As crianças moravam em apart-hotéis.
Primeiro, apart-berçário, depois
apart-escolas, até chegar no
apart-singles, não sem antes passar pelos
apart-quartéis.
Decio Bar (1943-1991)
CLIQUE AQUI e ouça Road, de Preisner
Primeiro, apart-berçário, depois
apart-escolas, até chegar no
apart-singles, não sem antes passar pelos
apart-quartéis.
Decio Bar (1943-1991)
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sábado, 5 de dezembro de 2009
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Fernando Pessoa
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Fernando Pessoa
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