terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...


Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Fernando Pessoa

Um comentário:

Carmélia Cândida disse...

Flávio, gostei demais do blog. Textos excelentes, ótimas dicas de filmes (estou baixando vários deles). Vou explorar bastante. Espero que vc poste mais, mais, mais.
Um abraço!