"O rosto de Oliver não era estranho a Dalgliesh; ele o vira frequentemente em fotografias ao longo dos anos, e as imagens cuidadosamente escolhidas haviam transmitido sua mensagem, impregnando os traços finos de força intelectual e até de nobreza. Agora tudo havia mudado. Os olhos vidrados estavam semi-abertos, dando ao morto um aspecto de arguta malevolência, e sentia-se um débil fedor de urina, vindo de uma mancha na parte da frente da calça - a humilhação final da morte súbita e violenta".
"Olhando para baixo, para as mãos enluvadas da professora Glenister movendo-se sobre o cadáver, a mente de Dalgliesh obedecia às suas próprias compulsões, mesmo enquanto ele reagia aos imperativos do presente. Impressionava-o, como em seu primeiro caso de assassinato, nos tempos de jovem detetive, o absoluto da morte. Uma vez que o corpo esfriava e o rigor mortis iniciava seu avanço inevitável e previsível, era quase impossível acreditar que aquele trambolho endurecido de pelo, ossos e músculos algum dia estivera vivo. Animal algum jamais ficava tão morto quanto o homem. Seria porque muito mais se perdera com aquele endurecimento final - não apenas as paixões animais e as urgências da carne, mas também toda a abrangência de vida da mente humana? Aquele corpo pelo menos deixava um memorial a sua existência, mas mesmo seu rico legado de imaginação e acertos verbais parecia uma bagatela infantil diante daquela negatividade final".
P. D. James, O Farol
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