sexta-feira, 25 de abril de 2008

Resíduo

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo

no queixo de tua filha.

De teu áspero silêncio

um pouco ficou, um pouco

nos muros zangados,

nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,

retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa

o insuportável mau cheiro da memória.

Carlos Drummond de Andrade

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