Confiei toda a minha vida na sabedoria do meu corpo; procurei desfrutar com discernimento as sensações que este amigo me proporcionava: devo a mim mesmo a obrigação de apreciar também as últimas. Já não recuso esta agonia programada para mim, este fim lentamente elaborado no fundo das minhas artérias, herdado talvez de um antepassado, nascido do meu temperamento, preparado pouco a pouco por cada um dos meus atos ao longo da vida. A hora da impaciência passou. No ponto em que me encontro, o desespero seria tão de mau gosto quanto a esperança. Renunciei a insultar minha própria morte.
Marguerite Yourcenar. Memórias de Adriano (1951). Rio de Janeiro: Record/Altaya. p. 275
Foto: Mausoléu do Imperador Adriano (76 d.C. - 138 d.C.), em Roma. Iniciado pelo próprio Adriano, foi concluído pelo seu sucessor, Antonino Pio, em 139 d.C.
Nenhum comentário:
Postar um comentário